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Igreja, Mudança Climática e Ecologia

Em um mundo cada vez mais afetado por eventos climáticos extremos, como a Igreja e a sociedade podem responder ao urgente chamado para cuidar da nossa Casa Comum?

Professora Aleluia Heringer. Foto: Joka Madruga/Fraterno7
Professora Aleluia Heringer. Foto: Joka Madruga/Fraterno7

Para refletir sobre essa questão, o Fraterno72.net entrevistou com exclusividade a Doutora Aleluia Heringer Lisboa, educadora, ex-diretora escolar e especialista em temas que unem fé, ecologia e educação. Ela abordou o tema durante o 2º Congresso de Comunicação da Conferência dos Religiosos do Brasil, em São Paulo, no dia 12 de setembro.


Com profundidade e clareza, ela aborda a emergência climática, a ganância humana e o caminho da conversão ecológica à luz do magistério da Igreja e da encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco. Acompanhe a seguir os principais momentos desta conversa necessária.


Fraterno72: Professora Aleluia, o tema da mudança climática é bastante espinhoso. Há os negacionistas e também aqueles que têm dificuldade de compreendê-lo. Como a Igreja pode trazer mais clareza sobre esse assunto para despertar consciência nas pessoas?


Dra. Aleluia Heringer: Olha, por mais que algumas pessoas insistam no caminho da negação, o tema já se impôs na vida de todos. Aqui em São Paulo, por exemplo, ontem tivemos o dia com a menor umidade do ar, batendo recordes. Há queimadas em Rio Preto. Esses eventos climáticos extremos já estão entre nós. As pessoas começam a perceber: “Isso já acontecia, mas agora está ocorrendo com uma frequência muito maior”. Acredito que, queiram ou não, todos terão que admitir que essa já é uma realidade inegável.


A Igreja, por sua vez, já possui um grande suporte para abordar essa questão. Está ancorada em documentos fartamente – deve ser o tema que mais inspirou lemas de Campanha da Fraternidade. Temos uma encíclica [Laudato Si'], e outros papas também já se pronunciaram. Não falta conhecimento organizado ou sistematizado; falta vontade política. Na Igreja, isso passa por uma conversão ecológica.


Se pensarmos em um personagem bíblico, Noé é a grande inspiração: ele construiu a arca sem ainda ver a chuva. De certa forma, precisamos apostar naquilo que estamos fazendo para mitigar um problema que já se instalou – principalmente pensando nas gerações futuras. A postura profética cabe muito bem na vida dos religiosos. É por aí.


Fraterno72: A senhora mencionou que as pessoas já percebem que o clima está mudando. Alguns cientistas já afirmam que não se trata mais de "mudança climática", mas de uma "emergência climática". Como a senhora vê isso?


Dra. Aleluia: Diferente de uma emergência comum – como uma sirene de bombeiros que passa rápido –, a emergência climática anuncia um novo protocolo que se instaura de vez. Assim como quando a OMS declara uma pandemia e os governos precisam rever suas ações, quando países declaram emergência climática, que é um pedido da ONU, é um alerta para que revisitem urgentemente seus protocolos. Precisamos repensar como as cidades estão organizadas para enfrentar chuvas intensas, secas prolongadas e outros eventos extremos. Estamos vivendo um "novo normal".


Fraterno72: O Papa Francisco, na Laudato Si’, nos convoca a uma ecologia integral e a mudanças de comportamento. Como promover essa mudança em um planeta marcado pelo consumo excessivo?


Dra. Aleluia: O que funcionou para mim – e acredito que funcione para muitos – é que a mensagem precisa atingir o coração das pessoas. Não basta apelar apenas para a razão ou para dados científicos. .Ninguém vai deixar de consumir algo. Senão, ninguém mais fumaria, por exemplo. A pessoa precisa ser alcançada em seu coração. Por isso o termo "conversão" é tão apropriado.


Precisamos entender que nosso estilo de vida impõe um custo à natureza e a outras espécies, um custo. É possível viver de forma mais harmônica, "pisando mais leve". Trata-se de desenvolver uma consciência de cidadania global, de cristã, de ser guardiã da criação. Nosso consumo determina a velocidade com que as máquinas avançam sobre as montanhas, o lixo que é jogado nos rios, a morte de bilhões de animais por ano. Tudo isso está relacionado à forma como nos vestimos, nos mobilizamos e comemos. E está ao nosso alcance mudar.


Fraterno72: O que aconteceu em Mariana e Brumadinho não foi mudança climática, foi um crime humano. Pescadores e pessoas perderam seus meios de vida no rio Doce. Isso é resultado da ganância. A emergência climática tem tudo a ver com a ganância humana?


Dra. Aleluia: Com certeza. Sou de Minas Gerais. Quando viajo por lá, vejo montanhas sendo consumidas pela mineração. Trens e mais trens carregados de minério passam o tempo todo. Aquilo tudo existe porque alguém está demandando. Porque que hoje não tem mais lojas que vendem máquinas de datilografia? Porque ninguém quer comprar. Se não comprarmos, não venderão. Podemos mandar um recado ao mercado: "Não quero isso. Não autorizo que façam isso em meu nome". Mas para isso, é preciso repensar nosso estilo de vida – e contagiar os outros. Quem sabe minha fala hoje não mexe com alguém que repense algo? Aos poucos, vamos contaminando um, outro, outro...

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Convidado:
15 de set.

Boa tarde, eu c concordo quem tem chegar nos corações das pessoas


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