Comunicar para transformar: Igreja em saída e a urgência da Casa Comum
- Joka Madruga
- 2 de out.
- 3 min de leitura
No 14º MUTICOM, em Manaus, comunicadores foram convocados a assumir a ecologia integral e a sair ao encontro do povo

Marcos Antonio Corbari*
Os comunicadores vinculados às igrejas, pastorais, movimentos e organizações devem despertar para a necessidade de colocar os pés para fora dos templos e ir ao encontro do povo, porque se ficarem restritos à formalidade protocolar, corremos o risco de reproduzir a postura do sacerdote e do levita que negaram socorro ao homem ferido caído à margem da estrada na parábola do bom samaritano. Precisamos ter a ousadia e a coragem do bom samaritano que não pensou duas vezes em ir ao encontro do ferido e acudi-lo, sem se importar com quem era ou porque estava ali.
Essa reflexão a partir do Evangelho de Lucas (10:25-37) resume o espírito do 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação (MUTICOM), realizado em Manaus entre os dias 25 e 28 de setembro de 2025. O tema escolhido — “Comunicação e Ecologia Integral: Transformação e Sustentabilidade Justa” — colocou no centro do debate o papel da comunicação diante da crise climática, da devastação ambiental e da exclusão social. Se o “Encontro das Águas” simboliza a união dos rios Negro e Solimões, o MUTICOM simbolizou outro encontro: da fé com os desafios sociais e ambientais do nosso tempo. Comunicar, hoje, é também denunciar a devastação da floresta, a violência contra povos dos campos, das águas, das florestas e das periferias urbanas sob a lógica predatória que conduz a economia.
A comunicação não pode ser apenas institucional, protocolar ou autorreferente. Precisa ser ato político e profético, que gere pertencimento, mobilize consciências e contribua para a transformação social. A Carta de Encerramento do MUTICOM destacou compromissos concretos para comunicadores e comunicadoras: Fazer da comunicação espaço de participação e escuta; Manter compromisso ético frente à mercantilização da mídia; Produzir narrativas que denunciem injustiças e anunciem alternativas solidárias; Aproximar comunicação institucional da comunicação popular. Já o arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, foi direto: é preciso “sair do domínio para a fraternidade; da destruição para o cuidado; da economia que mata para a Casa Comum”. Trata-se de uma interpelação que ultrapassa os limites da Igreja e chega a todos os comunicadores populares: escolher entre reproduzir a lógica do poder ou estar a serviço da vida.
O MUTICOM reafirma um ponto essencial: comunicação deve ser popular, ética e transformadora. Isso exige: Proximidade com os territórios, dialogar diretamente com comunidades e movimentos; Narrativas que tocam, usar linguagens acessíveis, imagens e símbolos que criem pertencimento; Formação crítica, enfrentar fake news e mercantilização da mídia; Ação prática, comunicar não só para relatar, mas para mobilizar e transformar. A comunicação que não se deixa tocar pelo sofrimento real das pessoas e da Terra perde sua razão de existir.
O 14º MUTICOM lembrou que comunicar é, antes de tudo, cuidar da floresta, da água, dos povos e dos invisibilizados pelo sistema. Assim como o bom samaritano, comunicadores e comunicadoras são chamados a interromper o caminho apressado e ir ao encontro do ferido à beira da estrada. Está na hora de perceber que a grande rede de comunicação que se desenvolve através das muitas ferramentas disponíveis a partir dos espaços religiosos precisa se voltar para as pessoas nas comunidades, os pequeninos e as pequeninas com quem de fato caminha o Cristo do nosso tempo. A comum união é o desafio que está posto, mas é preciso ter claro: ela acontece do lado de fora da porta da igreja e das telas das redes. No tempo presente, em que a crise climática se soma à desigualdade social, comunicar para transformar não é só uma escolha pastoral ou profissional: é uma necessidade histórica.
(*) Corbari é jornalista e comunicador popular, participou do 14º MUTICOM representando o Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ).
É urgente e necessária essa discussão e a denúncia de tudo o que precisa ser mudado por amor (à nossa casa comum e aos que mais sofrem) e por necessidade. A Terra grita. A vida tem urgência.