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Fraternidade e a urgência da fome

Confira entrevista do padre Joaquim Parron, coordenador do SOS Vila Torres, em Curitiba, sobre o tema da Campanha da Fraternidade 2023.


1. Padre Parron, o tema central da CF 2023 é Fraternidade e Fome. Como contextualizar esse tema no cenário da fome no Brasil, sobretudo nesse momento, quando testemunhamos a crise humanitária na Nação Yanomami?


R: Quando fazemos uma campanha, é porque temos uma urgência. E a urgência hoje é a fome. Nós temos hoje uma média de 33 milhões de pessoas que passam fome no dia a dia no Brasil além das outras pessoas que vivem a questão da subnutrição, então temos praticamente um quarto da população passando fome. Então quando a Igreja lança a campanha, lança esse apelo – Fraternidade Fome -, que nós possamos ser fraternos e possamos ajudar as pessoas. Temos que trabalhar de duas maneiras: primeiro, ser solidários, partilhando o pão como fala Jesus no Evangelho – “Dai-lhes vós mesmos de comer (Mt 14,16) -, quer dizer, o que eu tenho que posso partilhar com o outro. E o segundo ponto é mudar a estrutura injusta que produz a fome. Quais as estruturas sociais e econômicas que produzem essa fome? Por que o Brasil é campeão em produzir alimentos, bate recordes todos os anos, e ao mesmo tempo é campeão de desigualdades sociais? Então a campanha da fraternidade, a partir do Evangelho de Jesus e da urgência da fome, chama atenção para esse tema que é tão importante na nossa atualidade.


2. O senhor faz há tempos um grande trabalho com os que mais precisam. Qual sua perspectiva em relação aos resultados da campanha em nível local?


R: Uma das questões que percebi, por exemplo, durante a pandemia, tivemos muitos problemas, mas também tivemos muitas pessoas que abriram as mãos para a solidariedade. Então espero que essa campanha toque o coração de muitas pessoas. Na realidade, muita gente ainda pensa que não existe fome. Veja Curitiba, que eu chamo do cidade espetáculo, porque a arquitetura da cidade esconde a pobreza, esconde a fome. Aí quando a gente começa a passar para o outro lado, encontra esse mundo invisível da fome, e a campanha da fraternidade vai chamar atenção para essa realidade. Então as pessoas invisíveis que passam fome, especialmente nas periferias de Curitiba, se tornam visíveis. Esse é um ponto. Um segundo ponto é criar uma consciência social nas pessoas, um dos frutos da campanha, sobre a necessidade de mudar a estrutura social. A estrutura que vivemos hoje, onde uns acumulam demais e outros não têm nada, tem que mudar.


3. Como podemos, além da campanha, contribuir para reverter esse quadro crônico de fome? Como fazer a Campanha da Fraternidade acontecer todos os dias em nossas vidas?


R: Sempre digo que a Quaresma é o tempo forte da conversão. Jesus fala: “Convertei-vos, porque o Reino de Deus está próximo”. E a Campanha da Fraternidade é lançada justamente na Quaresma, quando temos esse grande chamado à conversão pessoal e devemos nos voltar mais para Deus, lembrando o que disse Jesus em São João 10: “Eu vim para que todos tenham vida e tenham vida em abundância”. Lembremos os três pontos da Quaresma: fortalecer a oração, dar esmola e penitência. O dar esmola, significa como sermos mais solidários nesse tempo da Campanha da Fraternidade, nesse tempo de Quaresma. É o tempo de nos voltarmos para Deus e para o próximo.


4. Fome e fraternidade caminham juntas e são sinônimo de partilha. Nesses tempos difíceis em que vivemos, parece que o comprometimento das pessoas com essa partilha é pequeno. O senhor concorda?


R: É que a sociedade hoje caminha com um certo relativismo. Nos acostumamos, por exemplo, a ver alguém caído na rua e a não enxergar aquela pessoa. Falo aqui da invisibilidade. Nos acostumamos com essas imagens, amplamente divulgadas na mídia e nas redes sociais, e nos tornamos indiferentes a isso. Por isso o grande chamado do Papa Francisco é justamente criar a consciência da solidariedade. Se o mundo chama para a indiferença, o Evangelho nos chama para o comprometimento. Posso dizer que estou otimista com a Campanha da Fraternidade deste ano, porque vai estar no Brasil todo, porque é um tema que está hoje no coração das pessoas, na pauta do dia a dia, que é a fome, ao lado da fraternidade. Espero que a campanha seja um novo para a realidade da partilha.


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