Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos
Ano B | Jó 19,1.23-27ª | Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6) | 1Cor 15,20-24a.25-28 | Lc 12,35-40
Para compreender:
É muito importante contextualizar o sentido de “comemoração dos fieis defuntos”. Na significação etimológica, “comemoração” indica “trazer à memória”. Assim, comemorar os defuntos não significa fazer festa, como compreendemos em nosso linguajar comum, mas significa trazer à memória aqueles e aquelas que já não estão mais entre nós.
Deparamo-nos, frequentemente, com a realidade da morte. Parece o fim. No entanto, a morte não indica o fim, mas o começo de uma nova realidade. Trata-se de uma realidade que foge do nosso controle. É verdade que precisamos sentir o luto; chorar quando sentir a necessidade para tal. Mas acima de tudo, não podemos perder a esperança do Ressuscitado! Em Cristo, a morte não tem vez e não tem voz.
Jesus, no evangelho é claro ao dizer: “Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar”. A única certeza que nós temos nesta vida é da morte. Assim, se ela é uma realidade na qual todos nós passaremos, é preciso estar acordados para quando ela chegar. Estar acordado significa saber valorizar a vida enquanto ela existe. Como dizem os ditados populares: “só se morre uma vez, porém, se vive todos os dias”. Irmãos e irmãs, paradoxalmente, a morte nos faz pensar na vida: Como temos vivido a nossa? Quais são as motivações que nos fazem levantar todos os dias e seguir a caminhada de fé? Quais os motivos que encontramos para amar e ser amado?
Olhemos para a figura de Jó, na primeira leitura. Ao tentar ser consolado pelos seus amigos, diante de tanta perda (filhos e bens), Jó continua não compreendendo o porquê daquilo tudo acontecendo com ele e sua família. Tantas vezes nós, diante de perdas - sejam elas de forma trágica, precoce ou natural - não encontramos consolação e só sabemos questionar a Deus do porquê isso acontece conosco... Porém, o conforto, tanto de Jó, quanto o nosso, está em Deus, o redentor que vive e levantará sobre tudo o que é pó. Isto para nos dizer: palavras humanas são insuficientes para tornar compreensíveis as nossas perdas e o nosso luto. Somente confiando em Deus, que é a nossa única esperança, poderemos encontrar conforto. Nesse sentido é que cantamos no salmo responsorial: O Senhor é o pastor que me conduz, não me falta coisa alguma. Se, verdadeiramente, o Senhor for o pastor de nossas vidas, nem mesmo diante da morte nos faltará a fé, a esperança e o amor.
Certamente, hoje nos recordamos de tantas pessoas queridas que já nos deixaram. Saudade é sentimento de quem verdadeiramente amou. Por isso, finados não é dia de falar de perdas, mas é dia de falar de AMOR. Afinal de contas, Deus é amor (1Jo, 4, 8) e nunca podemos nos esquecer disso. Deus amou tanto o mundo que deu seu filho único para nos resgatar de nossa miséria humana. Olhemos para a cruz: nele há o sinal de morte e sofrimento, mas como passagem para a glória da vida eterna, uma vida sem dor e sem sofrimento. Eis a chave de leitura para este dia: o amor pascal do Cristo ressuscitado é que nos torna desejosos de vida e vida em abundância (Jo 10, 10). Assim seja.
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Que as almas do fieis defuntos, pela misericórdia divina, descansem em paz. Amém!
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